O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO
- Gustavo de França
- Gabrielli Ribeiro
- Enuar Calambas
O filme “O mundo segundo a Monsanto” é um documentário realizado após 3 anos de pesquisa da jornalista Marie-Monique Robin sobre a maior empresa de agricultura e biotecnologia do mundo, a Monsanto. A Monsanto nasceu como uma empresa química e passou para o ramo da agricultura ao desenvolver produtos frutos da biotecnologia, os transgênicos, líder mundial de vendas de agrotóxicos, entre eles, "Roundup", herbicida à base de glifosato amplamente utilizado para o controle de ervas daninhas em diversas culturas.
Desde os primeiros minutos do documentário já é possível entender como o processo de fabricação desses produtos não é tão positivo quanto ele se propõe, e o principal problema ético do enredo é como o processo de regulamentação dos produtos transgênicos não seguiu nenhum padrão que assegura a população de que é um alimento seguro para o consumo.
Diversos entrevistados neste documentário salientam que houve uma grande manobra política nos EUA para a regulamentação da transgenia, envolvendo inclusive, membros do alto escalão do governo na época. A força de uma multinacional como a Monsanto e seu poder político ocorre por estar atrelada a uma das áreas mais lucrativas na economia, a agricultura. Sendo assim, público e privado andaram juntos numa relação de conflito de interesses pois a Monsanto depende de processos legais para a produção e venda de seus produtos.
Além disso, não apenas políticos foram envolvidos neste esquema, mas também cientistas. Estes, não comprometidos com a ética em sua profissão e coagidos por um sistema que se encontra acima deles, emitiram laudos técnicos que atendiam os interesses da empresa, ou seja, que diziam que os produtos agrotóxicos produzidos por essa não eram prejudiciais ao meio ambiente ou aos animais. Entretanto, não foi o que ocorreu, visto que diversos entrevistados relatam os danos à saúde que sofrem até os dias de hoje por conta do uso desses agrotóxicos.
Dessa forma, podemos apontar como principal responsável por esse processo o próprio sistema vigente, o capitalismo. O capitalismo dita que a motivação de todas as ações é o lucro, e um sistema que tem como motivação o lucro cria uma desigualdade social tão grande que os detentores de poder utilizam outras pessoas como ferramentas, e isso é apontado diversas vezes no documentário. O objetivo da jornalista foi desmascarar a Monsanto como uma empresa que causa danos graves à sociedade e ao ambiente, e através das informações e discussões coletadas é possível a todo momento perceber como possui um método claro e científico que corroboraram para o êxito da sua teoria, a discussão foi apresentada através do método investigativo, não foram dados manipulados tais como a Monsanto fez.
Dentro desse contexto, concluímos que grandes empresas produtoras de alimentos de agricultura e qualquer outro setor, corporação ou pessoa física que se beneficie com esses ideais objetivando o lucro tem como base valores imorais e antiéticos, uma vez que ferem valores como honestidade, justiça social, afetividade, estabilidade, saúde e inclusive ameaça a própria sobrevivência de alguns indivíduos que são atingidos diretamente com as ações de empresas como a Monsanto.
Algumas soluções podem ser pensadas para este dilema ético, como por exemplo, a agroecologia, estudo da agricultura desde uma perspectiva ecológica. Nela, a agricultura familiar é de suma importância. Consumir de pequenos produtores artesanais que promovem atitudes sustentáveis ajuda a desbancar o monopólio de empresas como a Monsanto. Outro exemplo é o controle biológico das pragas. Diversos insetos são consumidores naturais de pragas que ocorrem nos plantios e, com a ajuda de um profissional da área, pode-se realizar este controle de forma sustentável. Exemplo já bastante utilizado é o do chamado popularmente “besouro rola bosta”, introduzido nas pastagens para o controle biológico de moscas que causam diversos danos aos pastos.
Inclusive, países europeus estiveram durante os últimos anos tornando mais rígidas suas leis contra a quantidade de agrotóxicos utilizados nos alimentos. Essas medidas incentivam os pequenos produtores familiares e viabilizam os processos alternativos aos usos de inseticidas em lavouras, isso porque o governo foge do pensamento que apenas um indivíduo ou empresa deve lucrar e adquire a consciência de valor de justiça social, ao disponibilizar aos pequenos agricultores agroecológicos espaços de terra cultivável; saúde, porque a quantidade de agrotóxicos ingeridos na alimentação é menor; tradição, ao rever conceitos de agricultura familiar; e sobrevivência, pois o cultivo resulta na plantação do próprio ambiente, assim priorizando a comunidade ao indivíduo.
Entretanto, fazendo uma ressalva, o processo de engenharia genética, que proporciona a criação de um produto transgênico, não é um processo negativo para a sociedade. Para quem não sabe como funciona, a célula do organismo passa por um processo de modificação ordenada do DNA para produzir uma nova proteína que originalmente a célula não tinha, e essa técnica na área da agronomia é capaz de aumentar exponencialmente a produção e qualidade de um produto. Entretanto, por ser uma tecnologia altamente complexa, deve passar por um processo de testes muito grande e altamente rigoroso que leva anos, até décadas, até ser aprovada e comercializada.
Um último adendo pode ser aqui exposto, no dia 23 de maio é o Dia Mundial Contra a Monsanto, portanto a conscientização de que grandes multinacionais estão destruindo o mundo é o primeiro passo para repensar em maneiras de reverter a situação do nosso sistema.
Ficha Técnica
- Direção em Roteiro: Marie-Monique Robin;
- Montagem: Françoise Boulegue;
- Imagem: Guillaume Martin, Arnaud Mansir, Bernard Cazedepats, Frédéric Vassort;
- Som: Marc Duployer, Anne Boucier;
Link do Filme
https://www.youtube.com/watch?v=y6leaqoN6Ys
O documentário aborda de forma clara o contexto em que vivemos atualmente, onde o lucro é prioridade acima de tudo, até mesmo da vida humana, de forma que o Estado, instituição cuja função é a proteção e garantia dos direitos da população, subverte seus valores afim de facilitar essa racionalidade nefasta imposta pelas grandes multinacionais.
ResponderExcluirOlá, grupo! Parabéns pela análise. Faria duas ressalvas: a) não temos um dilema ético no filme, situação na qual haveria uma encruzilhada de escolhas entre duas opções igualmente boas ou igualmente ruins. Temos, sim, problemas éticos mesmo, como bem apresentado por vocês, devido à priorização do lucro acima da vida; b) não são valores imorais ou antiéticos. Os prováveis valores aí (que vocês não indicaram) são o poder, o prestígio/sucesso, o prazer. Em si, não há problema com eles. A questão é que eles foram usados de MODO antiético, o que é favorecido e estimulado pelo sistema econômico vigente. Teria sido interessante vocês identificarem os valores e necessidades por trás das decisões apresentadas no filme.
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